domingo, 23 de dezembro de 2018

COLEÇÃO ALAN MOORE - ROUND 2


OBS.: Esse especial está sendo publicado aqui, porque no outro blog que estou escrevendo desde quando saí daqui (Ozymandias Realista) mudaram o layout do nada sem avisar e tá esquisito. Por isso também já publiquei a parte anterior do especial abaixo desse, pra vocês poderem ter acesso às duas ;)

Como o mestre declarou  que esse ano será lançada sua última HQ, o último volume da Liga Extraordinária, resolvi fazer esse post como parte de um tipo de contagem regressiva. No anterior foram analisadas brevemente todas as principais histórias do cara, como "V de Vingança", "Watchmen" e "Miracleman", e também outras mais desconhecidas, como "Fashion Beast" e "Top Ten". Nesse focaremos em histórias secundárias de personagens da DC que só podem ser encontradas em uma coletânea muito difícil de encontrar, "Grandes Clássicos DC: Alan Moore". Apesar de simples, há histórias realmente MUITO boas, então elas merecem ser lembradas e deve ser interessante pra quem nunca viu poder conhecer.


Além dessas, também colocamos mais algumas outras que não estavam no primeiro round, que você vai conferir em breve. A ideia é ano que vem fechar com um terceiro e provavelmente último especial do Alan Moore, abordando principalmente a série da Liga Extraordinária. Você pode conferir o post anterior nos links abaixo. Vamos lá!



POSTS DE ANÁLISE ANTERIORES


COLEÇÃO HELLBOY







Arqueiro Verde: Olimpíadas Noturnas

"Não se fazem mais bandidos como antigamente. Eles andam meio patéticos..."

É uma noite comum de vigilantismo para o casal Arqueiro Verde e Canário Azul, mas há um novo inimigo arqueiro que é bem habilidoso, dando trabalho para Oliver Queen. A perseguição entre os dois é narrada com constantes metáforas relacionadas a competições de jogos olímpicos. Os desenhos são do querido Klaus Janson (Demolidor do Frank Miller).


Contos da Tropa dos Lanternas Verdes

"Só tente fazer uma história secundária do Lanterna Verde melhor que a maioria, o que não é terrivelmente difícil." Alan Moore

Eu acho interessante, realmente muito interessante, como o Alan Moore NUNCA trabalhou em mensais de personagens como Mulher-Maravilha, Batman, Superman, Flash, Aquaman e etc. E mesmo assim ele é um dos escritores que mais marcou na editora, se não for realmente o que mais marcou, com seus polêmicos "Watchmen" e "A Piada Mortal". Por que? Porque a competência do cara é admirável! E ele nem trabalhou tanto tempo na indústria mainstream! Um dos melhores exemplos estão em três histórias da revista secundária "Tales of the Green Lantern Corps". Em curtas histórias simples, meros experimentalismos do grande Moore influenciaram a mitologia dos personagens para sempre! Não deixe de conferir!


Mogo Não Comparece às Reuniões

"Há alguns lanternas verdes que não podem comparecer aos encontros."

Essa história introduz Mogo, um lanterna que estava sendo caçado por um selvagem do espaço, mas este em muito tempo não consegue encontrá-lo de forma alguma. Mogo acabou se tornando um personagem recorrente e importante do universo dos lanternas.


Tigres

"Você fala da catástrofe final... Depois de incontáveis milênios, os inimigos da tropa dos lanternas verdes unir-se-ão contra eles."

É narrada a última aventura de Abin Sur, o lanterna verde que quando morto deu lugar ao lendário Hal Jordan. Ele vai em um planeta habitado por uma raça de visual perverso que procura atormentá-lo com visões apocalípticas relacionadas ao fim da tropa dos lanternas verdes. Os seres são tão podres que fica a dúvida para Sur se o que dizem pode ser considerado verdade. Apesar de curta, fica um clima respeitável de conto de terror.


Na Noite Mais Densa

"Tentaremos tirá-lo do escuro o quanto antes."

Em uma aventura interessante, a lanterna Katma Tui precisa ir a um vácuo completamente escuro, chamado profundezas obsidianas, para encontrar alguém que possa patrulhá-lo em nome das tropas dos lanternas verdes. Mas em um ambiente tão diferente, as características de contato do alien que Tui encontra são muitíssimo peculiares, dificultando até a possibilidade dele se tornar um lanterna verde por não ser familiar com os mesmos conceitos que possuem os seres que vivem com luz e cores. Mais uma vez Alan Moore usa mais criatividade do que é comum para demonstrar o encontro entre seres de planetas diferentes.


Vigilante: Dia dos Pais

"Eu não sinto nada. Era preciso tomar uma decisão. A gente estava lá e tomou."

Um homem violento que havia sido preso por estuprar a própria filha fugiu da cadeia e está indo atrás dela. A garota foge de casa e acaba indo parar nos cuidados de duas prostitutas, o que mesmo não parecendo a relação ideal, tem uma dinâmica interessante que é trabalhada entre as mulheres marginalizadas e a criança que está carente de uma família. Ao mesmo tempo o Vigilante (anti-herói mais desconhecido criado por Marv Wolfman) é contatado para proteger a garota e dar um jeito no pai dela, ficando essa dinâmica de alguns personagens procurando os outros. A história tem duas partes e o mais surpreendente é a mudança de perspectiva na narração de uma pra outra, que realmente muda a forma que você vê tudo.


Vega: Vidas Breves

"A dificuldade foi deixar os gigantes cientes de que haviam sido conquistados."

Nas histórias de Vega, Moore trabalhava alguns conceitos científicos curiosos. Em "Vidas Breves" a narração mostra o encontro entre duas raças alienígenas. Mas uma é milhares de vezes menor e conta o tempo de forma bem mais rápida também, o que causa perspectivas diferentes do que acontece.


Vega: Um Mundo de Homens

"Por incrível que pareça, não há culacaonos fêmeas."

Aqui é mostrada a raça dos culacaonos, seres humanoides com cara de gato que nunca tiveram contato com um gênero oposto na sua raça. São histórias bem curtinhas.


Vingador Fantasma: Passos

"Eu ando para esquecer..."

O Alan Moore conta a história desse personagem de forma curiosa, já que por mais simples que sejam suas histórias ele sempre parece se esforçar pra colocar alguma coisinha que seja mais interessante. O misterioso fantasma está caminhando na rua à noite, enquanto isso ele fica meio esquecido e são narradas duas histórias em paralelo, uma envolvendo dois marginais no metrô, e outra sobre um desentendimento sério entre anjos da cultura cristã. Não fica muito clara a forma que ele explica a origem do Phantom Stranger, mas também é uma história secundária, longe de ser como as do Monstro do Pântano onde ele usou bem melhor o personagem.


Batman: Barro Mortal

"Penso em mim e Helena. Sobre nossa vida juntos... E ainda não consigo entender onde tudo deu errado."

Apesar de ser uma edição anual do Batman, o foco nem é o detetive, mas um de seus vilões mais desconhecidos, o Cara de Barro que vive dentro de um traje parecido com o de um astronauta. Fugitivo, o fora-da-lei insano está escondido em uma loja gigantesca, onde se apaixona por uma manequim. Todo o texto é mostrando a mente insana do vilão, que vai desenvolvendo um relacionamento doentio e abusivo com a manequim, que nem sequer tem vida. Muito bem feito e interessante, mesmo passando longe de ser um dos inimigos mais legais do Batman.


Supremo

"Você coloca os óculos e ninguém o reconhece! O que é isso? Todo mundo é estúpido ou o quê?"

O Supremo foi um personagem criado pelo Rob Liefeld na Image, era estúpido e violento. Quando o personagem foi ofertado ao Alan Moore, que tava trabalhando por lá, ele aceitou mas ignorando completamente tudo que tinha rolado no cânone, resolveu fazer uma série de histórias homenageando (e às vezes satirizando) o Superman e toda a cultura de super-heróis americanos a partir de sua criação. O alter-ego do Supremo lembrava o Clark Kent, a diferença é que ele é desenhista de uma série em HQ, mas de resto há várias versões alternativas de Krypto, Lois Lane, Supergirl, Planeta Diário, Lex Luthor, Smallville e até Batman, Coringa e o Asilo Arkham. No tempo presente os traços são feitos no estilo exagerado da Image na época, mulheres super-erotizadas e caras com toneladas e mais toneladas de músculos.


Conforme eles vão se lembrando de acontecimentos do passado, Rick Veitch (Monstro do Pântano) entra como desenhista quando os flashbacks vão mostrando tempos antigos ao estilo das HQs de décadas atrás. É tudo dividido entre a "Era de Ouro", "Era de Prata" Era de Bronze" e "Era Moderna", que seriam as épocas das histórias de super-heróis, das suas origens até os dias atuais. Apesar de ter ganhado um prêmio Eisner, acompanhar Supremo é bem cansativo com suas constantes quebras na narrativa pra mostrar coisas no passado. O Alan Moore também insiste em mostrar suas ideias sobre a arte e a criatividade de um panorama bem grande o tempo inteiro, chega a parecer um repeteco de ideias que já foram usadas melhor em Tom Strong, Miracleman e principalmente Promethea. As capas feitas pelo Alex Ross passam mais empolgação do que a história consegue transmitir. Tudo fecha com "New Jack City", uma homenagem do mestre Moore ao Jack 'The King' Kirby. Claro que é atraente uma homenagem/sátira do mestre Moore à história dos super-heróis, mas apesar de curioso, deve ser a série dele que tem menos chances de prender o leitor.

"-Bem, todos os gibis em que eu apareci ficaram bem cruéis recentemente. Seria legal apenas fechar a revista e começar um capítulo novo.
-Olhe pelo lado bom. Nós dois estamos nesse negócio há tempo suficiente para saber que nenhuma era dura pra sempre... Nem mesmo a era das trevas!"



Garotas Perdidas

"É tão bom saber que isso simplesmente é errado."

Esse é o polêmico quadrinho pornô do Moore, em colaboração com quem se tornaria futuramente sua esposa, a desenhista underground, Melinda Gebbie. No enredo, três mulheres de meia idade se conhecem em um hotel e começam a compartilhar histórias sobre sua vida sexual que são mostradas em flashback, ao mesmo tempo em que vão se relacionando, já que as três são lésbicas ou bissexuais. Tudo se passa no início da Primeira Guerra Mundial, época onde as personagens realmente poderiam se encontrar, visto a época que suas histórias originais foram lançadas. Cada protagonista é inspirada em uma personagem famosa da literatura infantil inglesa: Lady Fairchild é a Alice do País das Maravilhas, a Miss Gale é a Dorothy do Mágico de Oz e a Miss Potter é a Wendy. A personalidade e história de cada uma delas é diferente conforme sua classe social.

Casal arranjado pelo senhor Neil Gaiman (sim, o próprio, Lorde das Trevas, mestre do plano astral).
As personagens contam quando perderam suas virgindades e outras aventuras sexuais até chegarem no ponto presente. A Melinda Gebbie usa bastante pastel, dando um ar doce e estranho pra tudo, se tratando de uma pornografia tão bizarra quanto o possível, causa um contraste bem malicioso. Há momentos que ela faz splash pages que mesclam as cenas de sexo com os elementos fantásticos das histórias originais das personagens. O Moore continua narrando tudo de forma tão curiosa quanto consegue, logo no início toda a narrativa do primeiro capítulo é feita pelo ângulo do reflexo de um espelho, e também há intertextualidade com histórias dentro da história, como rolava em Watchmen. Sendo um PORNÔ, as pessoas ficam transando o tempo inteiro, muitas vezes de forma que fica cada vez mais esquisitas. Desde homens se enrabando, também tem pedofilia, estupro, incesto e até zoofilia; pra variar, o Moore tá nem aí de fazer uma história super desagradável. Lembrando que era um lançamento da Taboo, revista que só tinha história macabra.
Acredite, eu peguei a ilustração mais de boa pra colocar aqui.
Sendo uma pornografia, é cansativo de ler tudo de uma vez. Apesar de ser bem desagradável, longe do que eu e a maior parte das pessoas fosse gostar, admito que o final é muito bom. Mas claro que é pro gosto de poucos...


Um Pequeno Assassinato

"Quando o ovo sai de sua mãe, por um momento deve parecer com um pequenininho bebê humano."

Timothy Hole é um publicitário de meia-idade muito esquisito, ele parece um homem meio perturbado que mantém laços afetivos artificiais. Ele vê um garotinho com um semblante perverso que o persegue em vários lugares e some do nada, como uma assombração. Em paralelo às perturbações, Hole tem sonhos sobre o seu passado, ficando cada vez mais claro como ele não desenvolveu bem muitas coisas relacionadas à relações amorosas, família, ideais e carreira, e todas essas coisas vão vindo à tona na narração que mostra detalhadamente os pensamentos do personagem. Passa longe de ser as maiores viagens do escritor, na verdade é uma de suas histórias mais desconhecidas, mas na época representou a entrada do britânico em outros gêneros das HQs após terminar sua carreira com histórias da DC no final dos anos 80. Foi publicado no Brasil recentemente pela editora Pipoca & Nanquim em uma edição luxuosa que, infelizmente, sai um tanto mais caro pela qualidade que tem a história, sendo uma boa narrativa com desenhos do Oscar Zarathe, mas nada que fuja muito do normal.



A Vida Secreta de Londres

"Enterrada no alto de uma colina em declive, uma cabeça caótica, coroada com caramujos e necrópoles, alucina."

"A Vida Secreta de Londres" se trata de uma coletânea de narrativas organizadas pelo Oscar Zarate, onde grandes artistas da nona arte nos mostram curtas histórias explorando o mundo escondido da cidade de Londres, de forma que utilizam a técnica da psicogeografia (que Alan usou em "Do Inferno" e nos seus livros "A Voz do Fogo" e "Jerusalém"). Há várias celebridades, como o próprio Moore, Zarate, Neil Gaiman, Dave McKean, Melinda Gebbie e o Ian Sinclair, escritor que inspirou o Alan nessa última fase de sua carreira com os trabalhos de psicogeografia. Na introdução da edição brasileira, publicada pela Veneta, há uma introdução ferrada do editor, que realmente te deixa bem apropriado sobre o que é a psicogeografia, o que pra mim foi muito interessante, visto que eu só conhecia os trabalhos do Alan nesse estilo. Depois temos várias histórias que lembram o cenário underground de HQs: são em preto e branco, não se preocupam em ter finais muito expressivos e lidam com temas como sexo e violência de forma bem desagradável.


As histórias do Moore não são necessariamente as que mais se destacam, tem muita coisa boa, mas como o especial é dele, vamos focar na colaboração do cara. Primeiramente há um texto de prosa, "Highbury", onde Moore vai livremente descrevendo coisas curiosas que acontecem no local em determinado período do tempo. Há mais uma similar, "Holborn", que precede "Eu Continuo Voltando", essa um quadrinho, e desenhado pelo seu parceiro Zarate. Na história vemos a visita a um clube de strippers, e Moore mostra como as pessoas se sentem e a forma que a arquitetura do lugar as influenciaria. A coletânea encerra com a poesia "Capital Crime", onde nosso querido artista mostra sua enorme versatilidade com diferentes tipos de arte (e claro, é uma poesia meio nojenta, cheio de violência).


"Ficção e realidade: apenas loucos e magistrados não podem diferenciar os dois." Garotas Perdidas

COLEÇÃO ALAN MOORE - ROUND 1



Difícil alguém que curta HQs não consagrar o velho Alan Moore como um dos escritores mais importantes da história moderna. Seus trabalhos se tornaram ícones radicalmente: a capa da Piada Mortal, o smile de Watchmen, a máscara de V de Vingança. Desde seus trabalhos antigos com Dredd, Capitão Britânia e Miracleman; até se tornar uma lenda e vir com seus últimos projetos mais alternativos como Fashion Beast... há sempre alguma coisa mais excêntrica que sai do lápis do gótico mais sinistro de Northampton. Como suas obras são constantemente relançadas, resolvi tirar da gaveta tudo o que eu tenho do velho mago e passar um humilde guia... para você!

"Não escrevo pensando no que o público quer, escrevo o que acredito que ele precisa. São duas coisas completamente diferentes."





A Balada de Halo Jones


"Toy! Oh, você está bem! Achava que estivesse morta!"
"Não seja idiota, eu nunca estive morta na minha vida."

Essa série foi publicada lá no início dos Anos 80, sendo a Halo Jones reconhecida como uma das primeiras protagonistas marcantes das HQs, assim como a série é uma das primeiras de ficção científica do escritor. A série apresenta uma garota que, vivendo em condições deprimentes e violentas, resolve que vai viajar pelo espaço para ver o que ele guarda a ela. A narrativa é bem diferente, aquele estilo de capítulos rápidos com poucas páginas. A trama às vezes não se segue estritamente cronológica, algumas vezes é confuso, mas conforme mais confuso fica, também fica mais instigante. Os capítulos vão brincando com nonsense, questões científicas, reflexões existenciais e uns dramas bem pesados. A maior parte do tempo a personagem está servindo a um exército espacial e passando por situações bem extremas. Por fim, acaba sendo uma trama sobre a pessoa e seu ponto de vista conforme a vida vai passando sem muito controle (e esse cachorro robô que é uma das coisas mais doentes que eu já vi. Ele... é tarado).


Tinham marcado pra republicar tudo completo em junho (de 2015) pela editora Mythos. Eu praticamente não saio de casa sem passar na livraria e na banca de jornal, só se for muito tarde e já estiverem fechadas, e nos últimos meses não vi qualquer sombra de um encadernado da Halo Jones. Suspeito que tenha sido adiado, mas qualquer coisa só conferir se tem na Internet.


Capitão Britânia: O Mundo Distorcido


"É óbvio que eu sei no que eu me meti. Estou num universo paralelo enfrentando uma versão alternativa de mim mesmo junto a um grupo de mercenários para-humanos que querem me ajudar a defender a majestrix acusada injustamente de-- Já aconteceu com você de estar no meio de uma frase e não conseguir acreditar que está realmente dizendo aquilo?"

A única coisa que temos do cara na Marvel. O Capitão Britânia tem que lidar com a possibilidade de um destruidor de realidades estar prestes a fazê-lo com a sua. Junto a vários amigos começa uma das mais malucas tramas de ficção científica que você pode imaginar, contando com realidades paralelas, alienígenas e máquinas exterminadoras imparáveis. Saiu na coleção Salvat da Marvel, por um pouco mais de 33 reais.



Dredd


O autor trabalhou com o Dredd há um bom tempo atrás, lá na Inglaterra mesmo. O que ele escreveu podia ser encontrado na própria "Dredd", no Brasil, junto a estórias de outros autores. Saía direto, mas foi cancelada com a crise e tal, tal. Caso você seja fã do anti-herói, eles estão vendo como farão para voltar a publicar o resto, já que havia mais planejado.


V de Vingança


"Por trás dessa máscara, há uma ideia. E ideias são à prova de bala."

Uma obra extremamente influente criticando o sistema opressor. O personagem é um mistério e isso o torna fascinante, já que até o final sua identidade se mantém anônima. Creio que foi a primeira grande obra do cara. É um marco literário, sem dúvida, veja as pessoas usando a máscara do Guy Fawkes na rua, não dá pra negar. Mas a HQ é bem mais obscura do que o filme. Além dos problemas sociais há a ideia realmente de VINGANÇA do protagonista, ele é cínico, lembra bastante o Coringa que depois foi apresentado na Piada Mortal. Além disso, a mensagem anárquica aqui é o mais explícita possível. É um dos ápices da distopia; os idosos são sacrificados, negros, chineses e homossexuais? Nem existem. Há uns anos eu comprei um relançamento por um preço super bacana, acho que tava menos de 25 reais, deve ser fácil de encontrar.



Miracleman


"Às vezes imagino porque ela rejeitou minha oferta. Às vezes imagino porque me importo. E às vezes... só imagino."

É o primeiro e talvez mais radical experimento de colocar os super-heróis da ficção em um ambiente extremamente realista. Os personagens não só tem altos defeitos e problemas como Wolverine e Homem-Aranha, mas ocorrem coisas como passar voando e pegar um civil e o braço dele ser deslocado por causa do tranco. Depois ele entra em choque e não para de gritar. Outra parte bem pesada são as consequências psíquicas de homens terem super-poderes; tanto o Marvelman quanto a sua família e principalmente seu ajudante criança, que é o mais chocante. Nada em Miracleman foi escrito pra ficar bonito, deve ser uma das estórias mais drogadas que já li, e sem dúvida das mais impactantes também. Já houveram encadernados, mas não sei se é fácil de encontrar porque nunca vi fisicamente. Mas estão sendo relançados em revistinhas no Brasil, com uma repintada que deu uma cara realmente nova e com umas artes originais que pegavam quase metade da revista, que em termos de narrativa era bem curtinha cada parte mesmo. O preço tava menos de 10 reais, pra quem nunca conheceu talvez valha a pena, apesar da publicação meio esquisita.

ATENÇÃO: Foi republicado sem o nome do Alan Moore, porque ele não quer mais ser relacionado a obra de jeito nenhum por causa daquela cacetada de problemas com direitos autorais.



Watchmen


"Mas o país está morrendo. O que aconteceu com a América? O que aconteceu com o sonho americano?"
"Virou realidade. Está olhando pra ele."

A obra essencial. O Comediante (vigilante aposentado) foi assassinado. Um anti-herói insano das ruas que é quase um mendigo acredita ser o princípio de um extermínio de antigos heróis, mas muitos acreditam que ele só é maluco, devia até ser preso. Passado e futuro se conflitam com discussões de ideologias e pontos de vista sobre a vida. Não há sentido? É uma situação de altíssima seriedade ou só uma piada horrorosa? As questões são pequenas demais ou grandes demais? As escolhas morais importam? No fim nada termina? Tem uma parte de Watchmen que fica em você, e suspeito que depois que isso acontece você não volta a ser o mesmo. Foi relançado de diversas formas, com diferentes preços, é sempre uma questão de tempo até você encontrar. Um que eu gostei bastante recentemente é em formato de livro, bem pequeno, mas completo, é claro. Estava menos de 100 reais, o único porém é que só encontrei em inglês essa versão.



Batman: A Piada Mortal


"Vamos matar um ao outro, não? Talvez você me mate. Talvez eu te mate. Talvez mais cedo. Talvez mais tarde."

Só houve uma vez em que o barbudo trabalhou com uma estória em que o Batman e o Coringa eram os personagens principais. E essa é a Piada Mortal. O Coringa fugiu do Asilo Arkham pela batilhonésima vez, mas dessa vez... é diferente, ele está mais mal, digamos. O Batman sabe que tem que tomar uma decisão e em algum momento essa luta entre os dois terá que chegar em um fim. Seja apresentado ao Coringa distópico que conhecemos hoje, chegando a lembrar muito o personagem do V de Vingança e o Comediante do Watchmen. É uma estória séria, pesadíssima, longe de lembrar uma piada comum... Com a arte do lendário Bolland, essa é uma das narrativas cinematográficas mais marcantes do Moore, basta observar a imagem acima para perceber.


Eu não sei quantas reimpressões fizeram dessa estória (completamente recolorida pelo Bolland) depois do filme de 2008, mas é mais fácil você não encontrar alguém que mora com você do que não encontrar esse gibi pra vender.


Superman: O Que Aconteceu Ao Homem de Aço?


"Longe dali, na metrópole, as pessoas nas calçadas às vezes ainda olham para cima com esperança, vislumbrando um ponto distante nos céus... mas não: é apenas um pássaro, apenas um avião."

O cabeludo também trabalhou com apenas três estórias do Superman. Todas estão reunidas nesse encadernado que saiu há poucos anos e por um preço mais do que excelente. Me lembro que eu já havia lido todas, mas mesmo assim comprei e não me arrependo nem um pouco. Elas são:

-O Que Aconteceu Ao Homem de Aço?: Em duas partes são narrados os últimos dias do Superman da Era de Prata. Ele entra em derradeiro conflito com muitos de seus maiores inimigos; para muitos é considerada a conclusão definitiva do personagem. Ao menos o que existia nessa fase. Seria bom se eles fizessem esse tipo de trama mais vezes antes de aplicarem os infinitos reboots a outros personagens.

-A Linha da Selva: Junto a Rick Veitch, seu parceiro da "Saga do Monstro do Pântano", Moore faz esse crossover entre o monstro e o herói. O Homem de Aço foi contaminado por um fungo alienígena e sem saber muito de uma possível cura se encontra às portas da morte. É legal pra caramba, porque com a arte de Veitch fica realmente parecendo uma estória do Monstro do Pântano.

-Para O Homem Que Tem Tudo...: A dupla de Watchmen faz uma das estórias mais surpreendentes do personagem, com direito ainda à Batman, Robin e Mulher-Maravilha. É aniversário do kryptoniano, mas ele se vê vítima da Clemência Negra, uma planta que deixa sua mente presa em um sonho perfeito...

Ele tá chorando porque os fãs do cinema não querem que ele passe por aventuras diferentes na tela grande. Chora não.


A Saga do Monstro do Pântano Livro 1

As capas de cada volume da última publicação

"Confortam-se ânimos, perdoam-se agravos medonhos, por entre trevas num curso... movido por demônios."

Avaliarei cada livro, porque eles foram relançados agora nesses últimos dois anos (2014-2015) pela Panini e mesmo estando ligados, dá para comprá-los como aventuras separadas caso você não esteja cagando dinheiro. Foi a milésima vez que republicaram, hehe, já digo logo que é nada complicado de encontrar essa série. O primeiro livro é bem extenso, envolve o início da saga, a aventura contra o Dr. Woodrue e umas três estórias que são de aventuras com Jason Blood, o demônio Etrigan. Aqui o gênero de horror está no máximo, principalmente nessas últimas com o Etrigan. Surpreende e deixa um mórbido gosto de "quero mais".


A Saga do Monstro do Pântano Livro 2


"Eu sei... que ele... está lá... E eu sei... Que ele... está sorrindo..."

Esse é o volume mais alternativo. Há algumas estórias bem simples, mas bem-feitas, como "Enterro". Algumas chegam a ser fofas, mas há mais do horrivelmente terrível com o retorno do vilão Arcane. Aqui a psicodelia não tem fim com a presença de muitos personagens do panteão paranormal da DC, como Vingador Fantasma, Espectro e o demônio Etrigan que surge novamente. Também há a famosa "Rito de Primavera", uma das coisas mais drogadas que dava pra terem feito... e fizeram.


A Saga do Monstro do Pântano Livro 3


"A dor não pode ser sepultada e esquecida. A dor não pode permanecer no passado ou escondida sob o solo. O que foi enterrado não desapareceu. O que foi plantado germinará."

Aqui meio que tudo é introdução pro "Gótico Americano". O Monstro vai presenciando acontecimentos sinistros que tem rolado na América como presságio de um problema maior (a "Crise Infinita"). São várias estórias de terror com um fundo crítico e reflexivo, não são as melhores, mas ainda assim são muito boas, ainda mais pelo ótimo preço que fizeram; só R$23,90 na época.


A Saga do Monstro do Pântano Livro 4


"Tolos. Estão numa caverna... Abaixo da terra limpa... No meio de uma... Floresta tropical. Não têm... Nem mesmo... Uma chance."

Aqui é introduzido o Parlamento das Árvores e vai se desenrolando a parte paranormal da "Crise Infinita", com o Monstro do Pântano lutando uma guerra ao lado de todos os demônios, fantasmas e exorcistas que conheceu durante a sua jornada; o que conta com Etrigan, Zatanna e John Constantine. É uma das mais marcantes "super-sagas" de quadrinhos, quando se envolve um monte de "gente" pra um evento maior.


A Saga do Monstro do Pântano Livro 5


"Vocês... avisando... a mim? Vocês dão avisos... a um furacão? Dão avisos... a um terremoto?"

Um dos livros mais finos, mais simples e ainda assim um dos mais legais. Monstro do Pântano vai a Gotham City resgatar sua namorada que foi presa por ser considerado obsceno se relacionar com um homem planta. O confronto do herói em fúria enfrentando não só o Batman, mas toda Gotham City é muito bem feito. Além do embate que lembra muito qualquer boa problemática de super-herói contra um monstro gigante, Alan deixa todo um clima de tabus sexuais que sempre levantam polêmica, é muito legal, consegue ser realista mesmo tratando do romance de um homem planta. A parte que o Batman dá um fatality no prefeito dizendo que ele vai ter que prender o Superman de acordo com o que está impondo é arrepiante e inesquecível.


A Saga do Monstro do Pântano Livro 6


"Assim ele acelera e, ao ouvir as promessas monetárias do homenzinho cada vez mais baixas e esganiçadas à medida que deixa a margem para trás, ri por cima da barba e sobe e desce o remo. Pensam eles que dinheiro é tudo? Que é a única medida da qualidade de vida? Sim, pensam. E é por isso que são tão pobres. Labostrie entrevê um momento na margem e para. A correnteza traça um V que se abre e estende do remo imóvel."

Esse é o livro em que tudo ficou completamente espacial. Não há estórias de terror, nenhuma, apenas desventuras do personagem perdido no espaço. Incrivelmente, eles fazem tudo muito bem, mesmo mudando de gênero. Há encontros com vários personagens diferentes e inesperados da mitologia DC, como Lanterna Verde, os thanagarianos (Mulher-Gavião e tal) e outros que nem vale a pena spoilar. Há lutas que surpreendem pela criatividade como são narradas, mas o que chama mais a minha atenção é como isso parece uma edição de Dia dos Namorados. Há pelo menos umas três estórias aí que são lotadas de metáforas românticas. Algumas bem bizarras, afinal... é o monstro do pântano no espaço, não dá pra ser... "sexy", não é mesmo?


É aqui que a grande saga termina (6 volumes...). No final ainda há uma interessante mensagem do Alan Moore quanto a sua demissão da DC (que eu deixei aspeada acima) onde ele menciona até "V de Vingança", que ele tinha conseguido terminar de publicar.


Do Inferno


"Inferno, Netley. Nós estamos no Inferno."

Bem, tem sempre um absurdo, não tem? O meu absurdo é não saber o que as pessoas tanto vem em "Do Inferno". Aqui é narrado o polêmico caso de Jack, O Estripador; serial killer britânico. Bem, uma parte eu entendo muito bem como a narrativa é bem-feita, a pesquisa que ele fez foi monstruosa e talz, mas não sei porque chega a ser aclamado como uma das melhores narrativas gráficas de todos os tempos. Eu achei muito bem feito, mas não me senti como se estivesse lendo uma das melhores narrativas gráficas de todos os tempos não. Enfim, são narrados diversos cantos relacionados ao polêmico caso de Jack, O Estripador, que matava prostitutas. De forma que trata os elementos reais daquela época meio que como uma mitologia (afinal, como eu disse, a pesquisa foi monstruosa), eles passam sua versão de como foi a sequência de homicídios na Inglaterra, fazendo relações com os maçons e à realeza. Tem umas viagens fictícias próximo ao final que achei apelativas e desnecessárias, ficando nada a ver. Mas ainda assim vale a pena, o preço da última edição saiu salgadinho, mas a Veneta fez um belo trabalho, veja a capa acima. Faz pouco mais de um ano, é fácil de encontrar.



Promethea


"Você não é uma deusa. Não é uma semi-deusa. O que é você?"
"Eu sou Promethea. Existe nada como eu."

A Promethea é uma das criações mais interessantes do britânico. Ela é uma personagem que representa a criatividade; os símbolos e as estórias que passam infinitamente através do tempo. Sendo Alan um dos melhores contadores de estórias que temos notícia, o resultado é bem interessante. Meio despreocupado, sendo dessa fase que ele trabalhava na ABC, mas igualmente fascinante. Mergulha-se muito nas fantasias e mitologias ao nível máximo. Mas sinto que não adianta falar muito, pois assim como Halo Jones, eu ouvi falar que ia relançar em 2015, mas não vi pra vender em lugar algum. O próximo eu já vi algumas vezes, mesmo também sendo meio raro.



Top 10


"Bom. Não chore. Ser é o bastante. É tudo que há."

Apesar de parecer a coisa mais nerdística maluca científica psicodélica possível, acho válido o conceito do Alan Moore pra essa linha de estórias. Ele te contextualiza em uma realidade onde tudo e todos a todo tempo tem algum fator que faz deles um deus, um super-herói, um "escolhido", um demônio, um anjo, um alien ou algo do tipo. Faz todo o sentido, já que nas estórias da Marvel e da DC seria uma questão de tempo até a Terra ficar assim, do jeito que surgem cada vez mais caras desse tipo exponencialmente. Então são narradas estórias do dia-a-dia de um departamento de polícia dessa realidade, cada dia com a sua série de casos a investigar. É simplesmente muito criativo, não há em qualquer momento um senso de humor pesado pra você se matar de rir, mas tá cheio de sacadinhas inteligentes com tudo relacionado à Fantasia, você literalmente vai pegando as referências o tempo todo sem parar.


Claro que não é por isso que faltam temas pesados (drogas, sexo, preconceito), reflexões impressionantes e tramas muito bem escritas.

Acho que eles lançaram em uns três volumes no Brasil, o foda é que tava meio caro pro tamanho de cada um e também não chegam a ser as melhores estórias já escritas. Mas que é louco, diferente e bem feito é. Não posso deixar de falar como os desenhos são lotados de referências ou pequenas homenagens a tudo quanto é personagem da cultura pop. Falando de cabeça lembro de ir desde o Motoqueiro Fantasma até as Meninas Superpoderosas e Marvin, o Marciano.



A Voz do Fogo


"Que esperança pode ter uma coisa tão estridente e brilhante? Nenhuma. Absolutamente nenhuma esperança."

Esse livro é pura viagem experimentalista. Recomendo que leia com bastante calma, eu infelizmente li com pressa, por ter aquela lista de livros atrasados, é sempre uma má ideia. A estória vai sendo narrada desde a época pré-histórica, começando com um neanderthal abandonado no território de Northampton. À cada capítulo rola um salto temporal e com leves referências aos outros capítulos vão sendo contadas coisas diferentes. O foco são essas coisas meio de magia, sendo muito comum a luz ficar em personagens como bruxas, amaldiçoados, fanáticos religiosos, supersticiosos e tudo que beira pra esse lado místico. E é isso, mais detalhes seriam spoilers, ou apenas mais detalhes. Não há uma estória maior que Moore procura contar, é realmente uma viagem feita de forma única pelo tempo e pela fantasia. Apesar de se passar no território da Inglaterra (onde vive o autor), há vários elementos fantasiosos, até demônios, mas são trazidos de forma que foge do convencional.


Um detalhe bem legal da narrativa que eu não vejo falar muito nas resenhas por aí, é a forma realisticamente humana que tudo é mostrado. E eu digo isso como incômodo. Creio que TABU seja a palavra certa. Como demora para chegar até os tempos de civilização mais próximos da nossa realidade por muito tempo ele narra os personagens de forma bem sincera, dizendo como eles estão com a mão nos genitais, tirando insetos do cabelo, passando a mão na teta, colocando coisas nojentas na boca, cutucando feridas e coisas do tipo. Ele também escolhe como avatares(?) da narrativa personalidades bem tabu, como mentirosos, fanáticos religiosos, assassinos, bruxas, machistas e... o meu preferido...

...um cadáver.

Não pegue esperando uma leitura agradável. Mas ei, se você está lendo isso e é fã do Alan Moore, a última coisa que você deve esperar deve ser uma leitura agradável.



Um pouco difícil de encontrar, mas foi publicado pela editora Veneta também.


Fashion Beast


"'Glamour' significa magia! Glamour é magia!"

Última HQ famosa dele. Apesar de ter sido bem recebida, tem um desenvolvimento suuuuuuuper lento. Isso não deve ser um problema já que no Brasil você só vai encontrar o encadernado com todas as edições, lendo tudo de uma vez só. Na trama, Doll, aparentemente uma menina, mas o sexo não fica definido, começa a trabalhar para uma famosa empresa de moda, cujo dono vive escondido em um quarto escuro. O significado da Moda na sociedade, a necessária transformação da arte com a passagem do tempo e um tipo de adaptação da estória da Bela e a Fera acontecem nessa HQ, que apesar de demorar (bastante) pra deslanchar, tem várias surpresas. Muitos achavam que Moore tiraria sarro e faria pouco do mundo da moda, mas passa longe disso, ele levanta umas questões muito legais e os desenhos do Facundo Percio devem nada pra ninguém.



É, só vai ficar faltando "A Liga Extraordinária", porque eu realmente nunca li, nem uma única edição inteira sequer. Mas acho que teve bastante coisa, né? Alguns desses vejo constantemente nas livrarias, deve dar uma ajudada pra quem não conhece. A ideia de fazer esse post surgiu do aumento de preço dos encadernados Salvat, rsrs, eu pensei que ia demorar muito pra sair um quarto round (isso se sair) então fui escrevendo esse aos poucos. Espero que tenham curtido.


Nos últimos anos, além do "Fashion Beast", Moore andou trabalhando com "Providence" (homenagem ao universo lovecraftiano), "Crossed"(pós-apocalíptico) e "Jerusalém", seu segundo livro que está marcado para sair ainda esse ano, tendo mais palavras que a bendita Bíblia.

Sim... ainda há muito para ler.

Sempre há muito para ler.

Nada termina, nada jamais termina... hehehe...