domingo, 13 de janeiro de 2013

I Like The Way You Die Boy


Depois de toda a espera, Django Livre, o novo filme do diretor Quentin Tarantino, foi lançado. Apostando em um já antigo estilo faroeste, Django Livre nos leva para os EUA, na época da escravidão. Apesar de dar atenção a muitos temas geográficos e históricos, o foco é a aventura amorosa de Django e Broomhilda.


Mesmo sendo uma sequência espiritual de Bastardos Inglórios, Django é muito diferente desse antecessor, pra mim não faz sentido traçar comparações. A história é linear e começa com a libertação de Django pelo Dr. Schultz. Schultz é um dentista alemão praticamente aposentado, que vive como caçador de recompensas. Ele está atrás dos irmãos Brittle, que foram responsáveis por separar de Django de sua esposa (também escrava Broomhilda). Como Django reconhece os infelizes, Schultz propõe que ele o ajude a localizá-los em troca de sua liberdade. Mas Django está certo de ir atrás de sua esposa descobrir o seu paradeiro, e o dr. Schultz irá ajudá-lo, já que cresce uma forte amizade entre os dois.


O filme explora temáticas como poucos. Além desse núcleo da história, há menções e tributos a diversos filmes e acontecimentos históricos. O próprio nome do personagem principal, Django, veio de um western antigo, inclusive há uma piada com o antigo ator Franco Nero do filme Django, perguntando como se pronuncia o nome do herói do filme. Tarantino deu a atenção ainda a várias outras coisas como o Ku Klux Klan, a organização da sociedade naquele tempo e as teorias científicas racistas da época que tentavam provar a inferioridade dos africanos. Tudo é regido com maestria nas muito reduzidas 2h40 de filme. O filme pode se passar no Velho Oeste, mas há personagens de diversos lugares, como um dos principais, dr. Schultz que é alemão, com isso ainda vemos citação a uma fábula alemã que tem uma personagem com o nome de Broomhilda, fazendo uma analogia com a história corrente dos filmes. Sem dúvidas foi um dos filmes mais bem amarrados de Tarantino, mesmo ele tendo reclamado da limitação que o tempo de filme trouxe ao roteiro dele.


O elenco todo mundo sabe que é impecável. Muitos atores como Kurt Russel e Will Smith se negaram a fazer o filme porque ele seria polêmico demais, algo que eu explicarei mais a frente. Bem, o filme já lançou e não ouvimos falar de processos rolando então deu tudo certo. Jamie Foxx é como um Charlie Chaplin violento, seu personagem é quieto, observador e lida com as situações usando sua esperteza humilde, de um escravo que nasceu com muitos dotes (me referindo aqui a atirar...). Rupert Waltz já está concorrendo ao Oscar como quando interpretou o terrível Hans Landa em Bastardos Inglórios. Mas pela primeira vez na minha vida, vi ele fazendo um herói. O personagem pode não alterar tanto o seu consciente como Landa irritava e arrepiava, mas Waltz impressionou por fazer um papel diferente de forma extremamente boa. Sendo um branco que realmente não vê base no racismo e na escravidão, ele é um dos principais personagens no que se trata do ponto de vista das injustiças que aconteciam na época.


A mesma atenção vale para Samuel L. Jackson. Fugindo dos niggers que ele costuma fazer (jovens, ou velhos), Jackson fez um dos papéis mais notáveis de sua carreira. Interpretando o escravo/mordomo Stephen, ele é o segundo vilão do filme, completamente repugnante, aqueles velhos que realmente não prestam. Jackson ficou lotado de maquiagem, e cada tremida que ele dá com a boca, a postura curvada, tudo ajuda a dar vida ao seu asqueroso personagem. O outro vilão é Calvin Candle, o homem que possui a esposa de Django, Broomhilda. DiCaprio faz o vilão. Candle acaba não tendo tanta importância no filme quanto esperava-se (não que seja pouco, mas o foco realmente não é nele). Ele faz um homem terrível que é levado até o seu ponto de ruptura emocional pela sua raiva por negros e imaturidade. Como todos os outros atores, DiCaprio espanta na sua parte. Mesmo ficando meio escondida, ainda há Kerry Washington, que faz Broomhilda, a princesa em apuros. E claro, Tarantino não deixa de fazer uma ponta, e uma bem diferente dessa vez.


O curioso desse filme, é como ele se passa numa época antiga mas se mescla com elementos modernos. Como sempre Tarantino faz do seu jeito (lembra do giz riscando a tela em Bastardos Inglórios?) e o filme é editado de forma bem livre, com closes "clichês" de faroestes antigos no rosto dos personagens e sutis paradas na câmera causando aquele efeito de "What the fuck did you said?". Também há pessoas voando pra trás quando levam tiros. Porém, mesmo com isso há efeitos de câmera lenta para as cenas de ação e músicas muito das modernas, com direito a remixagens (e usando frases marcantes do filme! Não há adjetivos muito legais pra definir isso além de irado e foda). Pra variar voa sangue durante o filme todo, e há um exagero de pessoas que levam um tiro numa parte não letal e ficam berrando do fundo das suas gargantas até doer, no fim do filme esse tipo de "apelação" já encheu o saco.


O diretor e roteirista Tarantino é famoso pelos diálogos que cria, e dessa vez estão melhores que nunca. Eles tem uma grande parcela de atenção, muito merecida, mas não há cenas prolongadas demais como a infame cena do bar em Bastardos Inglórios (que ainda consegue manter a tensão) ou mesmo À Prova da Morte. Já viu À Prova da Morte? É como um teste pra ver se o telespectador não vai se suicidar enquanto ouve aqueles diálogos enormes e com um grau seríssimo de desinteresse! Ugh, ô filminho aquele, gosto nem de lembrar.

E a polêmica?!


Calma, calma, eu não esqueci. A questão é que o filme se passa na época da escravatura e sendo o protagonista um ex-escravo, evidentemente a escravidão é um dos temas. Tarantino não o deixa passar em branco e há cenas muito tristes mostrando as crueldades que eram feitas com os negros, mas devo dizer que elas chocam apenas emocionalmente já que não são explícitas, como as cenas de tiroteio. Mas o filme não se esconde, mostra a realidade como era. Você ouvirá "nigger", que é uma expressão muito, mas muito forte mesmo nos EUA para sair sendo dita o tempo inteiro. Os negros ainda podem falar entre eles, mas se um branco usa, o pau come solto. No filme a palavra é usada com uma frequência enorme, assim como acontecia na época. Não sei como os caras viram isso lá nos EUA, mas pra mim pareceu correto. Eu defendo a posição do Tarantino de que se é assim na vida real, não tem problema ele representar dessa maneira. E mais, o herói é um negro auxiliado por um estrangeiro a vencer um vilão que é branco e outro que é negro, então, tem nem porque esquentar por causa disso.

Conclusão

Tarantino mais uma vez nos mostra uma história original (o que tá ficando raro), só que essa é mais especial. Tem um contexto e identificação histórica muito grande, e se trata de uma bela história de amor e amizade, com um toque violento de sangue e humor negro. Pra mim foi uma das histórias mais interessantes já contadas por Quentin Tarantino. Estreia dia 18 no Brasil e lhe digo que vale a pena, a não ser que você não goste de muito sangue, nesse caso fuja do filme, mas é um conto inegavelmente inteligente.

2 comentários:

  1. Acho que o Quarantino devia fazer um filme sem um pingo de sangue e procurar a Disney para financiá-lo. Funcionou com o David Lynch.

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  2. E aqui o filme da qual Tarantino tirou o título e alguns outros elementos(ou não): http://mundobignada.com/2013/01/20/cinenada-django/

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