Uma das adaptações mais surpreendentes já feita

Há poucos dias eu li em um site americano de entretenimento uma lista dizendo porque essa onda de filmes de super-heróis está ficando chata e vai morrer em breve. Lá eles "argumentavam" que os filmes estavam repetitivos, ninguém aguentava mais o estilo Nolan, e como menção futura falaram que os filmes eram todos bobinhos usando de exemplo Guardiões da Galáxia, como o filme que ia trazer um guaxinim e uma árvore lutando no espaço. Antes de fazer a análise desse excelente filme, me permita provar como todas as ideias desse cara estão erradas.

O autor demonstra um claro desconhecimento do tema que estava tratando julgando o universo super-heroico como uma coisa que se expande refletindo o seu centro. Não, não, não. O universo super-heroico faz sucesso há 80 anos sem dar sinal de fraqueza porque na realidade são vários pontos separados e originais que se ligaram para formar uma coisa só. E isso graças à Marvel e a DC. Essas editoras que publicaram tudo quanto era tipo de gibi antes de chegar em Superman e Capitão América investiram na ideia do sujeito com super-habilidades que vai salvar o mundo repetidas vezes. Mas isso não significa que eles são todos iguais.

Muito pelo contrário. Batman, Homem-Aranha e Demolidor saem pelas ruas batendo em bandidos, mas o Superman é sobrevivente de outro planeta, o Quarteto Fantástico são exploradores do infinito, Capitão América é um soldado, a Mulher-Maravilha é uma semi-deusa grega! Mas graças a Marvel e a DC, todos eles foram criados no mesmo lugar e fazem parte da mesma realidade fictícia (engraçado escrever essas duas palavras juntas). O Justiceiro nem sequer tem poderes, os Guardiões da Galáxia são uns maloqueiros do espaço, OU SEEEEEEEEEEEEEEJA se Star Wars tivesse sido criado sob o selo da Marvel, Luke Skywalker também seria considerado um super-herói, assim como os personagens de Final Fantasy, Assassin's Creed, Indiana Jones e etc. 

Não bate no Batman. Por favor, não faz isso.

Serem todos filmes de super-heróis significa JUSTAMENTE QUE ELES JAMAIS SERÃO FILMES REPETITIVOS! Na verdade, afirma que eles serão sempre diversificados, pois as duas editoras são simplesmente os nomes mais ricos da história do entretenimento. E se a Disney resolvesse juntar a sua turma toda, sai de baixo. Em 2008 a Marvel deixou isso extremamente mais forte fazendo ligações entre os filmes do Homem de Ferro e do Hulk. Passamos pelos Vingadores, e agora em Guardiões fica exageradamente claro como esse tipo de filme ainda vai durar e vai durar muito! Qualquer um que tenha o costume de acompanhar quadrinhos sabe como há 70 anos eles lançam uma grande leva de gibis inéditos T-O-D-O M-Ê-S. Uma ideia que não importa quanto eu pense, sempre vai me chocar. Então, se eles conseguiram fazer os Guardiões da Galáxia brilharem, sim, ainda teremos muitos filmes de heróis pela frente, e olha que a DC ainda tá dormindo.

Bem, agora que o nerd tá feliz, hora dele voltar pro texto de análise do filme. Então voltemos aos... GUARDIÕES DA GALÁXIA!

Na primeira Comic-Con pós-Vingadores a Marvel anunciou que haveria Guardiões da Galáxia. Todo mundo "..." eu esperei, esperei e esperei. Nenhuma lembrança. Afinal, quem eram os Guardiões da Galáxia?! Até o Stan Lee disse que não fazia a mínima ideia de quem fosse. Quando anunciaram o Rocket (guaxinim) no Marvel vs Capcom 3, eu não tive qualquer dúvida de que era um personagem da Capcom, afinal, eu passei metade da minha vida lendo Marvel! E aí está a surpresa, eles devem estar entre os personagens mais desconhecidos da editora e mesmo assim foram selecionados para uma adaptação.

Apesar do ótimo "Soldado Invernal", ano passado a Marvel fez feio com os seus filmes (e aquela porra daquela série chata) e deu a impressão que eles estavam dispostos a se esforçar pouco após o sucesso colossal de Vingadores. Agora em 2014, eles fecham com chave de ouro e nos deixam mais uma vez babando pelo o que rolará no filme dos Avengers. No filme do Capitão América eles focaram naquilo que eu já mencionei como o ponto forte da mitologia dos heróis dos quadrinhos: a variedade. Fizeram um thriller de ação militar sobre espionagem e teorias de conspiração. Com os guardiões eles apostam mais uma vez em arriscar e fazem bonito.

O filme simplesmente suga o melhor de tudo que a Marvel já fez nas telonas. O humor é quase constante, mas há ótimas piadas. Diálogos inteligentes, fruto dos personagens que foram tranquilamente adaptados sendo que NINGUÉM os conhecia. Peter Quill interpretado por Chris Pratt pode parecer um humano clichê pra você se identificar no filme, mas desde o início são estabelecidas necessidades dramáticas que fazem do fora-da-lei espacial um personagem de identidade própria. Todos os outros são alienígenas e aí como não poderia deixar de acontecer, com toda a grana da Disney, efeitos de captura de movimento e maquiagem às toneladas para a caracterização.

E não é só Peter Quill, ou Rocket e Groot que são os personagens carismáticos da nova franquia. São TODOS. É bacana uma produção que não tinha muitos olhos em cima ter sido tão bem cuidada. Demora nadinha nadinha para que o grupo se reúna e em pouco tempo você já conhece (e gosta de) todos. Não há um flashback de origem pra cada personagem, mas suas necessidades dramáticas e objetivos vão sendo muito bem explicados nem que seja só por um breve cantinho da história. Me lembrou muito os melhores dos RPGs, como Final Fantasy, em que cada personagem tem sua história particular que o leva ao objetivo comum do grupo. Apesar de ser o primeiro filme, a história é bem grandiosa, com personagens bem influentes interligados. Bradley Cooper faz talvez o seu melhor papel (kkk) dublando o guaxinim Rocket, e Vin Diesel também (kkkkk) como Groot. O homem-árvore parece aqueles personagens previsíveis, mas nada nesse filme é muito previsível.

Zoe Saldana e Dave Bautista também caracterizam bem os seus personagens. Todos ficam bem definitivos, prontos para mais filmes. O Benicio del Toro aparece bem pouquinho como o Colecionador, mas faz muito bem o seu papel e também consegue marcar, provavelmente voltará em futuros filmes. Quando falam que esse é o novo Star Wars, falam muito bem. O filme tem uma gigantesca influência do antigo clássico e bebe muito bem da fonte. Assim como "Episódio IV: Uma Nova Esperança", introduz vários personagens carismáticos DE PRIMEIRA. Diferentes raças com vozes e trejeitos extremamente forçados para marcar. O que está longe de ser ruim, lembre de Mestre Yoda, Darth Vader, General Grievous, e o meu preferido, Darth Sidious. É um novo clássico do cinema fantasioso e ótimo para fãs do estilo de qualquer idade, há personagens profundos e longas guerras de naves. E falando em personagens, quase que eu me esqueci do...

Thanos

Como a Marvel havia prometido, o titã do final pós-créditos de Avengers mostra a sua cara de novo para nós. É extremamente satisfatório e me deixou uma certeza total de que o tirano do espaço está sendo muito bem introduzido pelo estúdio assim de pouco em pouco... quando chegar o hype vai ser gigantesco. Eles não enrolaram em introduzir os personagens espaciais da editora, já havendo os krees, uma das principais raças alienígenas da Marvel, e parentes do Thanos. É uma pena não ouvir uma letra sobre skrulls, já que eles são os principais, mas isso é culpa da Fox que tá com os direitos dos personagens do Quarteto Fantástico (os quais eles tem usado muito mal, como você provavelmente viu). Isso também mostra como sem os seus principais personagens como Wolverine, Homem-Aranha e Dr. Destino, a Marvel está fazendo literalmente o melhor que dá com o que tem. O que trás um paradoxo interessante.

Talvez se a Marvel Studios estivesse com os direitos da maldita Fox, eles não cometessem riscos gigantescos e geniais como Guardiões da Galáxia. Falando nisso... vamos dar atenção a...

James Gunn

Eu não esqueci que quando descobri que se tratava do escritor dos filmes do Scooby-Doo, fiquei seriamente desanimado. Eu até gosto dos filmes do Scooby-Doo, mas isso não muda o fato deles serem filmes do Scooby-Doo.

O roteiro do filme do Scooby-Doo até que era legal. Os monstros voltavam, o Scooby peidava pra mandar o fogo do fantasma de volta contra a cara dele e bem... o Scooby-Loo era o vilão no final. James Gunn também roteirizou o bizarro jogo Lollipop Chainsaw de Suda51. Gunn mostrou um grande talento agora dirigindo um grande filme, com personagens ainda mais carismáticos do que os anteriores. Uma continuação estar confirmada faz todo o sentido já que Guardiões da Galáxia é um dos filmes mais divertidos já feito pela Marvel Studios. Agora é só esperar pelo futuro que com certeza será ainda maior.

Eu particularmente curti mais o Guardiões da Galáxia até do que os Vingadores. É claro que a lembrança de todos aqueles heróis se unindo pela primeira vez é muito mais legal, mas tirando isso, os Guardiões tiveram um elemento surpresa que é sempre mais gostoso de assistir. Eu diria que eles levaram o estilo criado por eles mesmo ao máximo, mas do jeito que tem se superado, é certeza que o melhor ainda está por vir. Definitivamente, fiz as pazes com a Marvel Studios esse ano. Agora façam um filme novo do Hulk u.u Esse filme comprovou que sendo bem feitos, os filmes de heróis não vão cansar. E eu particularmente prefiro os filmes de heróis dominando a linha de cinema mainstream do que Crepúsculo e Harry Potter. A DC se mostra mais uma vez extremamente atrasada, já que a Marvel chegará em 2015 com um universo que já envolve Ultron e Thanos, e  em alguns anos provavelmente veremos um filme do Homem-Aranha lutando junto com o Capitão América. Do jeito que isso tá ficando, eu não duvido que a Marvel Studios consiga pisar na Fox, é uma questão de tempo. E aí quem sabe daqui a uns 20, 25 anos... Marvel vs. DC. É o que tem nos gibis.

Analisando o histórico, temos

- Homem-Aranha (2002)
- Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
- Vingadores (2012)
- Guardiões da Galáxia (2014)

É uma clara ascensão. Filmes "de heróis" não vão acabar. Quem quer ficar afirmando o contrário me faz um favor e vai dar uma volta. E esperem pela cena pós-créditos do filme, é uma das melhores e sem dúvida alguma a mais maluca já feita.