"Por que você não decai também? É um planeta tão brutal! É um mundo tão horrível!"
"Brutal Planet" foi o vigésimo primeiro álbum de estúdio do shock rocker Alice Cooper. À esse ponto, já nos seus cinquenta, o cara já era um artista incrível e consagradíssimo, tendo trabalhado em álbuns incríveis; como o conceitual "Welcome To My Nightmare" de 1975, sua aliança suprema com Desmond Child em "Trash" de 89 e "From The Inside" que discutia a experiência que ele tinha passado internado no hospício. Após uma sumidinha no final dos Anos 90, Alice voltou do nada em 2000 com um dos álbuns mais pesados e impressionantes de todos os tempos. Algo completamente novo na carreira dele! A ideia era diferente, o pioneiro resolveu tentar um som mais moderno, soando como o Metal Industrial, assim conseguindo provar mais uma vez porque tem fama de camaleão entre os gêneros. Confira a primeira música do álbum, a própria faixa-título, no vídeo logo abaixo.
"Deixa o mundo estourar, é aqui que eu vou ficar. No meu Santuário. Tenho minha bagunça no chão, tenho minha tranca na porta! Vá embora! Santuário! Vá embora! Santuário!"
Então, esse álbum é de 15 anos atrás, por que resolvi fazer uma resenha dele? Primeiramente, concluí que valia a pena pois quase tudo de insanamente genial do Alice Cooper é consideravelmente desconhecido. Segundo, gostaria de agradecer publicamente ao escritor/leitor parceiro Ozymandias Realista que colaborou compartilhando alguns textos antigos meus (e um mais recente do filme Birdman) no site Action&Comics. Como eu disse, alguns textos eram mais antigos e isso me fez ir pensando no que valia e não valia a pena trazer de antigamente. Então, enquanto fazia algo que faço todos os dias desde os 15 anos, ouvir Alice Cooper, pensei que valia MUITO a pena avaliar essa peculiaridade de uma década e meia, que tenho certeza, poucos conhecem. Então vamos ver se eu convenço você disso, caso o vídeo acima já não tenha o feito.
Mostrando domínio sobre a conceitualidade, no álbum Alice e sua banda discutem vários aspectos sobre um lugar chamado 'Brutal Planet', muito similar com o nosso nem tão popular planeta Terra. A primeira música é o melhor cartão de visitas que poderia haver, os instrumentais pesados que você ouviu passam o clima sinistro e sombrio do lugar sem esperança. Ao mesmo tempo, a música pesada mostra grande criatividade artística com os back-vocals femininos e angelicais que se referem à Brutal Planet com cinismo, em contraste ao resto da letra dizendo que é um lugar maravilhoso e perfeito. Impressionante, e o resto, segue o clima? Perfeitamente. Exatamente.
"Me estoure um beijo porque estou solitário. Me estoure um beijo porque estou com medo. Me estoure um beijo porque você não me conhece. Diga-boa-noite e então me exploda daqui! Me diga o que você está pensando e me diga porquê, me estoure um beijo e depois me exploda daqui!"
Alice escreveu quase todas as letras sozinho, sempre mantendo um tom crítico inédito na sua carreira. Brutal Planet é um mundo condenado e tudo lá é terrível, você vai se acostumar com isso, mas ei, Alice Cooper está te apresentando tudo, será legal. Nos palcos Alice sempre vive personagens (como sua persona, o próprio Alice) e aqui ele faz isso em todas as músicas. Em "Wicked Young Man", uma das faixas com a letra mais pesada, Alice fala como um jovem assassino, assumindo que não são os jogos que ele joga, nem os filmes que ele assiste ou as músicas que ouve, ele é só um jovenzinho do mal que quer todas as pessoas mortas. "Blow Me a Kiss" fala sobre exclusão social e preconceito em um nível suicida. Na música "Gimme" ele vive o próprio demônio que está tentando um humano a dá-lo tudo que quer. Há muitas que são tão estremecedoras quanto a faixa principal, como "Pick Up The Bones" (atuada na imagem acima) que tem um refrão incansável. A banda na época era formada por Ryan Roxie (um dos preferidos dos fãs) e Phil X nas guitarras, ninguém menos que Eric Singer (Kiss) na bateria, e Bob Marlette faz um excelente trabalho no baixo e nos teclados, que fazem toda a diferença nesse CD.
"Não ficaremos felizes até estarmos sufocando. Então nós comemos mais um pouco, vomitamos no chão. Estamos com tanta fome... Tão patético..."
Não há uma única faixa em que a letra não impressione. O álbum realmente chega o mais próximo possível de uma apresentação feita apenas com áudio, tudo parece estender a primeira faixa, tanto no peso crítico quanto no cinismo, a música sobre Fome, por exemplo, se chama "Eat Some More". "The Little Things" fala sobre um psicopata, mas isso só relembra o que o cantor/intérprete/compositor/maluco profissional sempre fez, de forma que ela soa cômica em algumas partes, sendo a única canção mais descontraída. Ainda assim é muito divertido com a criatividade que Alice tem de misturar comédia e horror desde quando surgiu, algumas partes tem easter eggs para fãs, dizendo nomes de outros clássicos da carreira dele e coisas como "você pode roubar o meu carro e jogá-lo no rio, você pode me enfiar no fogão e ligá-lo, pode jogar um tijolo na minha janela, mas é bom nunca perguntar como consegui meu nome!" A única que sai da sonoridade pesada e tem um tom bem suave e delicado é "Take It Like A Woman".
Nessa Alice volta a algo bem diferente que ele tinha feito com muito sucesso no álbum "Welcome To My Nightmare" de 1975. Assim como "Only Women Bleed", "Take It Like a Woman" fala sobre o sofrimento e a resistência de uma mulher que foi enganada por um homem terrível que a humilhava. Com muita sensibilidade Alice troca a expressão "aguentar como um homem" por "aguentar como uma mulher". Assim sendo, o trabalho passa por absolutamente tudo. É um álbum tão surpreendente e violento quanto um soco na cara, essencial na lista de qualquer um que curte música pesada e inteligentes trabalhos conceituais. A banda ainda teve sorte e não sofreu repressão religiosa como costuma rolar com os papões Ozzy Osbourne e Marilyn Masnon. Alice já declarou publicamente ser cristão há muito tempo, seu pai era pastor e ele inclusive dá aulas de catequismo em uma igreja no Arizona, de forma que a faixa-título tem até menções à morte de Cristo e a degradação do Éden descritas na "Bíblia Sagrada". Artisticamente isso sempre é interessante, mas o povão não gosta muito. PORÉM, até mesmo o Doug Van Pelt, editor de músicas religiosas alternativas elogiou o álbum dizendo que ele "passa valores morais bíblicos de forma muito poderosa". Olhe só! E esses caras costumam ser super chatos! O passeio por Brutal Planet é essencial e vale a pena, à não ser que você fique com medinho, hehehe...
Pesadíssimo
Assustador
Genial!!!
Como quase sempre, o álbum foi acompanhado de uma turnê toda caracterizada, cujo registro você pode conferir no DVD "Alice Cooper: Brutally Live", meio difícil de encontrar. Já o CD eu cheguei a ver pra vender um em uma loja, havendo também todas as faixas no YouTube.
1.Brutal Planet
2.Wicked Young Man
3.Sanctuary
4.Blow Me a Kiss
5.Eat Some More
6.Pick Up The Bones
7.Pessi-Mystic
8.Gimme
9.It's The Little Things
10.Take It Like A Woman
11.Cold Machines
O álbum foi tão bom, mas tão bom, que teve até direito à uma dobradinha! Se tiver sobrevivido, sinta-se bem vindo para conhecer...
"Vai! Eu tenho algo pra te mostrar! Vai! Você pensou que tinha acabado! Vai! Você realmente vai adorar! Vai logo! Vai logo! Vai logo! Vai logo!"
Em "Dragontown" de 2001 (logo um ano depois do anterior), quase a banda toda volta, com exceção do baterista Eric Singer, que foi substituído por Kenny Aronoff. A ideia é justamente trazer mais do que tinha ficado tão legal, sendo realmente uma CONTINUAÇÃO! Esse trás mais ficção do que "Brutal Planet", você agora vai conhecer a principal capital do lugar: Dragontown. Claro que há sempre um paradoxo com situações reais, mas algumas são mais fantasiosas. Aqui as letras mergulham em um lugar que se mostra mais pobre e marginalizado, com letras sobre oportunidades criminosas, drogas, violência e várias outras coisas que já estavam sendo discutidas antes. Em "Every Woman Has A Name" Alice lembra das mulheres reprimidas de novo, "Disgraceland" tira sarro do Elvis Presley que teria acordado lá depois de morrer e em "I Just Wanna Be God" ele dá voz ao Diabo novamente, é uma verdadeira segunda dose. Comercialmente foi um dos maiores fracassos de Alice, mas a fórmula de pesado+moderno a lá 2000 é executada brilhantemente mais uma vez. Não supera o último, mas faz jus, sem dúvida. Há algumas faixas que são únicas do segundo álbum, como "It's Much Too Late" que narra sobre um sujeito sonso que não entende a punição que está sofrendo no purgatório.
Com essa dupla Alice leva ao máximo seus já anteriormente comprovados talentos. Talvez sejam os trabalhos mais criativos e ambiciosos do velho roqueiro, todo mundo (quando conhece) curte. E ia ter até...
UMA TERCEIRA PARTE!
Eu li isso na biografia dele, "Bem-Vindo ao Meu Pesadelo", lançada há poucos anos no Brasil. A ideia era fechar uma trilogia de álbuns com esse conceito violento e distópico. Porém, depois de um tempo Alice sentiu que acabou passando da época e já não fazia mais sentido gravá-lo, sendo uma ideia que até podia ter rolado, mas acabou ficando pra trás. Após isso Alice entrou em uma fase de álbuns mais descompromissados em que ele meio que só grava o que o diverte, mas isso dá pra outro post. A turnê do Dragontown não teve DVD, mas as músicas também podem ser encontradas sem qualquer dificuldade.
1.Triggerman
2.Deeper
3.Dragontown
4.Sex, Death and Money
5.Fantasy Man
6.Somewhere In The Jungle
7.Disgraceland
8.Sister Sara
9.Every Woman Has A Name
10.I Just Wanna Be God
11.It's Much Too Late
12.The Sentinel
Duas das maiores concentrações de criatividade do mundo do rock, não tenho dúvida, hehe. Bom final de semana, folks. Ouçam bastante Alice Cooper o/
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